Era noite de sexta-feira, 15 de maio. Até então já tinha passado quase doze horas dentro de aviões e aeroportos, ficado um tempinho no prédio da UEMA, experimentado uma pizza pra lá de gostosa e conhecido dois jogos de tabuleiro. Sabia que meu primeiro dia em São Luís estava chegando ao fim, mas não imaginava que ele ainda tinha uma surpresa guardada.
“Quer pintar amanhã?”, foi o que Mendi me perguntou.
Além de desenhar ilustrações lindas e fofas como essas aqui presentes no PD,N!, a moça também faz arte com a pintura (você pode conferir mais do trabalho dela aqui), mas quando embarquei para SLZ nem se passou pela minha cabeça que ela me daria a oportunidade de me aventurar com as tintas também.
Mendi começou a me explicar como seria no dia seguinte, caso eu aceitasse o convite. Acordaríamos cedo e o desafio seria pintar uma tela inteira ao longo da manhã. Conforme escutava, a empolgação mesclada ao receio de fazer cáca ia se aproximando e ocupando um baita espaço aqui dentro, mas o primeiro sentimento, percebi, era bem mais forte do que o outro.
Sim, eu queria pintar.
Encontramos uma tela em branco ao lado do cavalete de Mendi quando chegamos na Morada das Artes, e pregado a ela estava esse recado pra lá de fofo. Achei tão atencioso da parte do pessoal ter tomado esse cuidado ;-;
Recebi, então, as primeiras coordenadas do que teria de fazer. Antes de qualquer coisa eu deveria escolher o que pintaria – lá eles tem várias revistas inspiradoras -, depois desenharia no papel a imagem selecionada para treinar o traço e, quando estivesse segura, faria o desenho na tela para finalmeeeeente começar a pintar.
Queria algo com significado. Aquela seria a minha primeira tela da vida e me deu uma vontade enorme de retratar uma figura especial, com elementos que representam algo pra mim. Não demorei para pensar na paisagem de um pôr-do-sol na praia. Procurei nas revistas uma ilustração que se encaixasse nisso, buscando, também, um desenho simples. A pessoa aqui não tem nenhuma experiência nessa arte, então de nada adiantaria pegar uma coisa cheia dos detalhes.
Soube de imediato que iria pintar aquela imagem quando encontrei o pôr-do-sol com palmeiras e mar em uma das revistas. Nela tinha tudo o que eu estava buscando, então logo comecei a passar aquilo para o papel.
Olha pra figura. Desenha. Olha de novo. Desenha. Dá mais uma conferida no modelo e lá vai mais um traço no sulfite. Encarei a tela quando pensei que já tava ok, tentando me convencer de que estava pronta para fazer a mesma coisa nela.
O receio de fazer cáca voltou. Pensava no quanto eu não queria desperdiçar o material de Mendi enquanto orientava o grafite na superfície branca, e eu sentiria que tava jogando tinta fora se não conseguisse. Isso somado à insegurança de nunca ter pintado nada com pincel começou a me deixar apreensiva. Admito que ali o medo tomou forma.
Mendi, o pai dela e os professores me deram toda a segurança possível e quando assustei, lá estava amarelo, laranja, vermelho e marrom diminuindo cada vez mais o branco. No início eu tomava cuidado de não preencher os espaços onde ficariam as palmeiras e o pedacinho de terra. Pensava que se a tinta invadisse esses cantos, a tela poderia não ficar como eu queria e estragaria tudo, mas logo vi que isso não seria um problema.
As instruções e ajuda vinham sempre que precisava delas. Achei tão lindo ver a habilidade do pessoal! Eles seguravam o pincel com firmeza, precisão, e quando posicionavam na tela as cerdas melecadas de tinta a óleo tudo fluía muito rápido, a cor aparecia exatamente como deveria. Aos poucos fui confiando mais em mim, aumentando também a velocidade com a qual eu pintava, o degradê surgindo diante dos meus olhos cada vez mais rápido.
Não vi o tempo passar enquanto pintava, mas o relógio não foi a única coisa que esqueci ao longo do processo. Nem lembrei de pegar a câmera ou o celular pra registrar cada passo, simplesmente porque toda a minha atenção tava ali, na pintura.
Antes do almoço quase tudo estava pronto, faltava apenas algumas folhas das palmeiras (eta parte complicada essa! Tá vendo aquela toda bonita, a mais separada de todas? aquela não foi obra minha, não!). Mas ela estava ali, praticamente finalizada, tudo graças ao apoio e auxílio que me deram durante toda a manhã. Os últimos retoques foram feitos quando voltamos do almoço.
Não sei quem são os autores dos trabalhos que aparecem nas primeiras fotos, mas a terceira foi feita pelo tio Emílio e a quarta, a pintura que Mendi finalizou naquele sábado.
Hoje fazem dois meses desde que essas coisas aconteceram. Além das lembranças, ficaram também as saudades de um dia incrível e a gratidão por toda a ajuda vinda dos professores (William e Luis), de Mendi e de tio Emílio! ❤